Antes de começar a avaliar qualquer aluno ou paciente deveremos passar pela fase da entrevista ou anamnese. Ela consiste em algumas perguntas que fazemos para descobrir um pouco mais sobre esse aluno e entender a origem dos seus desequilíbrios. Também queremos entender a resposta para a seguinte pergunta:
Por que essa pessoa buscou as aulas de Pilates?
Cada um terá seus motivos pessoais para isso que nem sempre estão claros de primeira. Para isso usaremos várias perguntas e tudo dependerá da sua habilidade de descobrir as informações necessárias do seu aluno.
Importante: nessa etapa de entrevista o aluno já deve estar sob observação. Preste atenção em todas suas características e detalhes como:
● Maneira de sentar;
● Gestos;
● Modo de falar;
● Expressão facial quando fala dos problemas;
● Marcha;
● Maneira de levantar;
● Outros.
Vá anotando o que achar relevante para avaliar corretamente seu aluno. Se existir uma sala de espera no seu Studio seja a pessoa que vai até lá recebê-lo e acompanhá-lo até o lugar onde for fazer a avaliação. Assim você ganha mais oportunidades para observar esse aluno e descobrir mais pontos importantes.
Até a maneira de falar te indica algumas alterações no corpo. A cadeia muscular de flexão ou ântero mediana, por exemplo, possui origem no assoalho bucal. Portanto, podemos imaginar que alterações na fala sejam indicativos de tensão nessa cadeia. Vê como tudo nessa entrevista deve ser analisado profundamente para descobrir onde está o verdadeiro problema?
Caso utilize, ou já tenha utilizado, aparelho nos dentes é outro fator de extrema importância. A partir desse dado saberemos que estamos lidando com um corpo, que já possui suas próprias tensões internas, externas e outra força que lhe está sendo imposta atuando em seus dentes e crânio.
Outra dica importante: confie nos seus instintos, seja durante a entrevista, durante a avaliação física, durante a avaliação estática ou durante as aulas. Muitas vezes os instintos são aqueles que descobrem fatores importantes, muitas grandes descobertas aconteceram através de insights.
Lembremos também, agora que já sabemos que lidamos com um corpo viscerado começaremos nossa colheita de dados, da qual as questões viscerais deverão ser investigadas. Quanto às questões viscerais, faço um adendo: se perguntarmos ao indivíduo como anda sua saúde no geral, ele dirá que está tudo bem. Logo, insista e fragmente sua pergunta.
Vou explicar a seguir o porquê e como. Devo falar ainda que não somos médicos, e, portanto, não diagnosticamos doenças, nossa busca se dá por tensões víscerais, o fato de estarmos diante de uma questão visceral, não indica uma patologia em si. E nesse momento quero deixar bem claro aqui, que não estou propondo um protocolo de avaliação postural, mas sim uma sugestão de como ela poderá ser feita de uma maneira otimizada e clara.
Anamnese na avaliação
Seguem algumas sugestões de como aplicá-las na prática
● Como anda sua deglutição?
● Engasga com frequência, sobretudo quando come um alimento solido e muito seco?
● Sente dores de cabeça frequentemente?
Um aluno que responde sim para um ou mais dessas peguntas provavelmente possui uma tensão na deglutição. Portanto, veremos músculos cervicais tensos. Em outros casos encontraremos cefaleias de repetição e tensões cranianas que devem ser investigadas mais a fundo. Se um indivíduo já sofreu um trauma na cabeça ou tem um histórico de meningite, por exemplo, é um caso que precisa de mais estudos. Precisaremos ficar atentos a questões da articulação temporo mandibular (ATM) e questões que envolvem a má oclusão dentária.
● Já teve problemas pulmonares: Pneumonia, Bronquiolite, Asma ou Bronquite?
É possível que você ouça que não, insista! O aluno muitas vezes não lembra ou não relaciona os sintomas à condição. Você também pode quebrar a pergunta em partes e questionar sobre sua respiração em detalhes.
● Nem quando criança?
Não podemos nunca nos esquecer que o corpo obedece a três leis: do conforto, da economia e do equilíbrio. Portanto uma patologia, mesmo que antiga, pode ser o começo para o corpo começar a se reequilibrar diante de tal.
Se temos uma pneumonia, esse corpo esteve sujeito durante um determinado período, à uma forca centrifuga, já que os sinais flogísticos são: dor, calor, rubor e edema.
Sendo o órgão sempre prioridade, segundo o dr Andrew Taylor Still, criador da Osteopatia, a estrutura determina a função. Isso nos obriga a pensar que esse arcabouço costo vertebral, foi obrigado a ceder espaço para esse aumento de massa pulmonar.
Um quadro asmático geraria ao contrário, um corpo que esteve ou está sob tensão centrípeta desde então.
Madame Thérèse Bertherat diz em um de seus livros que nossos músculos são como paredes de uma casa que tudo ouvem e tudo veem ficando nessas paredes, que são nossos músculos, a memória de todo o ocorrido durante nossa vida. Nessa bela frase simbólica ela se refere brilhantemente a nossa memória corporal, estritamente ligada à nossa imagem mental.
Os problemas viscerais pulmonares, podem gerar desequilíbrios importantes. Eles geram falta de mobilidade torácica. Por consequência, temos o enrijecimento dos tecidos circundantes osteomusculares, privação de oxigenação local e como resposta dor, além de retrações diafragmáticas importantes. Interferindo diretamente na nossa relação respiratória, gerando desequilíbrios importantes, seja na entrada do ar (forças centrípetas), ou na eliminação do CO2 (forças centrifugas). Outro fator importante que deve ser avaliado é como esse indivíduo respira. Com o aumento do stress gerado pela vida moderna, muitas pessoas respiram mau simplesmente por ansiedade. Devemos avaliar ainda, se a sua respiração ocorre em ins ou em ex.
● Como iniciou a dor musculoesquelética, caso exista? Como é esta dor? Defina-a, queima, arde, tem irradiações?
Caso a resposta seja sim, já nos atentamos por estar diante de um dor de compressão nervosa.
● Em que hora do dia sente mais dor? Acorda com a dor mais forte?
Indicativo de uma dor de origem visceral. Não faz sentido passarmos 8 horas em repouso sem ação gravitacional. Durante esse tempo nosso sistema de hidrofilia funciona e está em atonia muscular gerada pela fase dos movimentos rápidos dos olhos (fase REM) atuando em nosso sistema músculo esquelético, e acordarmos com dor nesse sistema. Caso a dor aumente durante o dia segue um esquema lógico de dor mecânica.
É importante questionar também a qualidade de seu sono para nos certificarmos de que estamos diante de um indivíduo que possui um sono reparador.
● Já teve problemas gástricos? Quais? Sintomas de má digestão? Refluxo? Azia? Queimação?
São fatores que nos induzem a pensar em questões da pressão intracavitária (PIA) aumentada. Quando a pressão é empurrada para cima, são esses os sintomas representativos.
● Já teve hepatite?
O fígado talvez seja o órgão mais sensível a dor do corpo humano, além de ser o segundo maior em volume, logo diante de uma inflamação hepática, teremos como forma de proteção a dor, um mecanismo lançado por um corpo inteligente que se trata de elevar a hemicúpula diafragmática direita, interferindo na respiração e na PIA.
● Tem problemas intestinais? Seu intestino funciona todos os dias?
Hoje sabemos que o intestino só perde para o cérebro em número de neurônios, sendo capaz de produzir neurotransmissores importantes para o alivio das dores e melhora do humor. Além, do fato de estarmos diante de um intestino preguiçoso, teremos uma área interna diminuída, pelo excesso de fezes, sendo pressão igual a forca sobre a área, quanto menor a área maior a pressão (PIA).
● Tem histórico de cálculo renal? Bebe a quantidade de água necessária durante seu dia a dia?
Os rins estão localizados imediatamente abaixo dos músculos quadrados lombares, logo uma tensão renal centrípeta ou centrifuga, podem inibir ou tensionar alterando o correto trabalho dos músculos citados.
● Já sofreu alguma cirurgia? Retirou algum órgão? Fique atento as mulheres, pois as mesmas não consideram a cesariana uma cirurgia.
Esta pergunta é de extrema importância, pois caso a pessoa já tenha se submetido a algum tratamento invasivo cirúrgico, com certeza teremos tensões fasciais e no conjuntivo, geradas por uma má formação da matriz cicatricial na própria sutura, ou no caso da retirada de: um baco, vesícula, útero, apêndice, ou ainda, no caso de uma agenesia renal, internamente o corpo se encarregara de gerar material conjuntivo para suprir o espaço deixado pelo órgão ou víscera em questão, gerando um ponto fixo interno de forca centrípeta permanente nesse indivíduo. Nesses casos, usaremos um teste simples, que descreverei a seguir, para avaliarmos se essa cicatriz externa, gera interferências posturais, segundo Barral, o pai da Osteopatia Visceral, a ponto dessa cicatriz ser toxica para a postura.
● Apresenta infecções urinarias com frequência? Perda de urina?
Caso a resposta seja sim, devemos estar atentos às possíveis pressões constantes a qual o assoalho pélvico (AP) está sendo submetido.
● Possui alguma alteração nos aparelhos de reprodução?
Esses órgãos estão localizados dentro da pelve menor, sendo os principais responsáveis, pelos desequilíbrios da pelve.
Conclusão
Os problemas que nosso aluno relata em seu corpo são resultado de diversas compensações. Por isso precisaremos descobrir as possíveis origens desse problema, cadeias tensionadas e outros fatores. Essas são 14 perguntas que você pode usar de modelo na hora de entrevistar seu aluno.
Certamente você também pode alterar, tirar ou adicionar mais perguntas a essa lista de acordo com as necessidades específicas de seus alunos. Ela te ajudarão a conseguir informações mais precisas sobre o aluno e seu corpo.
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