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Foto do escritorJanaína Cintas

Cadeias Musculares com Madame Mézières

Como surgiram as Leis de Mézières e qual sua importância?


Antes mesmo do conceito de cadeias musculares estar presente na literatura, a osteopatia estudava o corpo como uma unidade. Porém, estamos aqui para falar da pessoa que consideramos como uma das principais precursoras das cadeias musculares: Françoise Mézières, ou Madame Mézières.

Madame Mézières é de naturalidade vietnamita, nascendo em Henói em 1909. Quase 30 anos depois ela se diplomou em fisioterapia na França e começou seus estudos para desenvolver o próprio método. Após desenvolvido, ele só foi ensinado para fisioterapeutas.

Em 1947, Madame Méziéres lançou um postulado de Revolução da Ginástica Ortopédica. Essa foi uma obra especialmente importante para o desenvolvimento da fisioterapia na época.

Uma de suas discípulas afirmava que Madame Mézières tinha dons de observação especiais. Veremos mais à frente como essa sua observação diferente ajudou a desenvolver o método que influenciou diversos estudiosos. Entre eles temos nomes importantes nos estudos das cadeias musculares como Philippe Souchard e Marcel Bienfait. Já falei sobre todos esses nomes em artigos anteriores.


Como Surgiram as Cadeias Musculares de Madame Mezières?


A técnica de Mademoiselle Françoise Mézières surgiu na França em 1947. Ela a desenvolveu através de diversas observações clínicas que culminaram no método das cadeias musculares.

O insight que levou Madame Mézières a desenvolver o método aconteceu durante um atendimento. Ela estava realizando o tratamento da cifose dorsal de uma paciente que utilizava colete estabilizador. Na tentativa de mobilizar a região problemática, Madame Mézières gerou um enrolamento dos ombros como compensação. Porém, os ombros não eram parte da manipulação.

Para diminuir a lordose lombar, a terapeuta solicitou uma retroversão ativa por parte da paciente. Apesar de ter o resultado desejado, ela também acabou aumentando a lordose cervical.

Como correção do posicionamento cervical, Mézières pediu um auto crescimento ativo. Essa última atitude levou a um bloqueio inspiratório na paciente.

Através das compensações geradas no atendimento, Madame Mézières percebeu que existia uma rigidez muscular excessiva nos seus segmentos. Por causa dessa rigidez cada parte perdeu sua autonomia individual. Por isso, quando solicitava-se a correção louca, isso acontecia com o comprometimento do restante do sistema. Assim, as lordoses aumentavam por causa do encurtamento.

A partir dessas observações Madame Mézières desenvolveu suas leis, conhecida como Leis de Mézières.


1ª Lei de Mézières

Nas leis de Mézières só existem lordoses. Por isso, o crédito de comprimento que ganhamos na cadeia pode ser enganoso. O sistema sempre encontra um meio de recuperá-lo em alguma extremidade.


2ª Lei de Mézières

A cadeia posterior é uma unidade que se comporta como somente um músculo. Ela ordena os demais músculos para que trabalhem de maneira a seguir seus comandos. Essa ideia é discutida por outros cadeístas que discordam que exista uma cadeia posterior única.


3ª Lei de Mézières

A cadeia posterior sempre possui musculaturas muito fortes, curtas e potentes. Por isso a cadeia posterior teria características:

● Dominantes

● Estruturalmente Profundas e Multiarticulares

● Funcionalmente Estáticas (Tônica)

● De Controle Neurológico Central Inconsciente

● Estruturadas para um Trabalho de Sustentação Antigravitacional

Atualmente podemos entender a contradição mecânica que a terceira das Leis de Mézières cria. Quando um músculo está encurtado ele é incapaz de desenvolver potência e força. Existe uma curva de comprimento X tensão que impede isso.


4ª Lei de Mézières

Para realizar o tratamento da cadeia posterior é preciso conter todas as compensações que existem nela. Porém, considero que a liberação das tensões da cadeia posterior é um tratamento mais eficiente que a contenção das compensações.


5ª Lei de Mézières

Madame Mézières acreditava que a cadeia posterior não se cruzava no corpo, portanto toda cadeia deveria aceitar a postura excêntrica. Ela também acreditava na existência de um conjunto de cadeias sinérgicas à cadeia posterior.


6ª Lei Mézières

Esforços musculares são capazes de levar a um bloqueio na respiração. Com essas observações, Madame Mézières afirmava que os problemas não estavam na fraqueza de musculatura posterior.

Na verdade, existia uma força excessiva nessa cadeia. Portanto, seus tratamentos tinham ênfase em soltar os músculos posteriores. Isso ajudava a libertar as vértebras de seu arco côncavo. Lembrando que esse tratamento fazia sentido para Madame Mézières, que só aceitava as lordoses.


Proposta de Tratamento de Acordo com as Leis de Mézières





Madame Mézières desenvolveu sua proposta de método a partir da observação que sempre que tentava diminuir uma curvatura vertebral, ela migrava para outro segmento. Assim, ela determinou que existia a globalidade entre os eixos vertebrais e cadeias musculares.

Para conseguir tratar pacientes usando as Leis de Mézières e método, ela utilizava posturas excêntricas que precisam ser mantidas por longo tempo. As posturas eram corrigidas de maneira ativa pelo terapeuta.

O paciente realizava a postura e ao mesmo tempo tinha de fazer uma sucessão de inspirações e expirações forçadas. Isso incluía inspirações prolongadas e lentas, sem acontecer apneia ou aumento do ventre.

As expirações aconteciam para alongar os pilares diafragmáticos. De acordo com Madame Mézières, assim ela conseguiria devolver a fluência dos músculos ao dilacerar o tecido conjuntivo e estimular a memória muscular pelo prolongamento da postura.

Durante as posturas, era importante evitar ou impedir que os membros fizessem rotação interna. De acordo com a publicação Revolução na Ginástica Ortopédica, as lordoses tinham papel na origem de todas as deformações do corpo e compensações musculares.


Cadeia Muscular Posterior


As leis de Mézières que citei acima serviram de base para a criação de um método de reeducação postural. O método partia do princípio de que os músculos posteriores são muito mais potentes que os anteriores. Esses músculos trabalham continuamente.

Madame Mézières chamou essa cadeia de cadeia muscular posterior. De acordo com ela, também só existiam lordoses e que desvios posturais seriam todos culpa da cadeia muscular posterior. Assim, o tratamento mais eficaz consistia no alongamento dessa importante cadeia. Para garantir a eficiência do tratamento é preciso evitar as compensações.

Ela também fez a proposta de que desequilíbrios e tensões dos músculos agonistas e antagonistas dos membros inferiores geram rotação interna. Nesses casos, o músculo Psoas seria um importante rotador interno.

Hoje, sabemos que isso realmente acontece. O valgismo dinâmico é um dos grandes problemas que enfrentamos em nossas aulas.


Cadeias Musculares de Madame Mézières

Baseando-se em seus conceitos e pesquisas, Madame Mézières desenvolveu quatro cadeias musculares. Mencionamos nesse artigo a cadeia posterior, mas ela também trabalhava com outras. Essas eram:

Cadeia Posterior: Composta por todos os músculos posteriores.

Cadeia Braquial: Formada músculos anteriores do braço, antebraço e mão.

Cadeia Ântero-Interna: Onde constam os rotadores internos dos membros inferiores, músculos diafragma e iliopsoas.

Cadeia Anterior Cervical: Compreende os músculos escalenos, peitoral menor, intercostais e diafragma.


Conclusão


Apesar de pesquisas mais modernas e outros cadeístas terem contestado seus conceitos, Madame Mézières foi genial em suas colocações. Ela foi a primeira fisioterapeuta que conseguiu perceber a relação de músculos, fáscias e ligamentos.

Hoje em dia, sua técnica foi aprimorada e até teve suas contradições biomecânicas reveladas, mas isso não tira seu mérito. Madame Mézières e seu excelente olhar clínico foram os responsáveis por criar uma nova corrente fisioterápica.

Ela teve coragem de ir contra as grandes instituições da época e divulgou as próprias ideias. Em parte, foi graças a ela que hoje conseguimos estudar e aplicar e estudar o conceito de cadeias musculares.

Referências Bibliográficas

Janaína Cintas, Livro Cadeias Musculares do Tronco.


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