Como Podemos Melhorar os Problemas da Marcha em Idosos com Pilates
- Janaína Cintas
- 27 de mar.
- 3 min de leitura
Por que devemos nos preocupar com a marcha nas pessoas idosas?
A marcha é uma função essencial para a independência e qualidade de vida do idoso. Quando comprometida, está diretamente associada ao aumento do risco de quedas, lesões, fraturas e até isolamento social.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente um terço das pessoas com mais de 65 anos cai ao menos uma vez por ano, e esse número sobe para 50% entre os maiores de 80 anos. Dessas quedas, 5% a 10% resultam em fraturas graves, sendo a fratura de quadril uma das mais preocupantes, por sua associação com alta morbidade e mortalidade.
Osteoporose e marcha: uma combinação perigosa
A osteoporose, condição comum nessa faixa etária, fragiliza os ossos, tornando-os mais suscetíveis a fraturas mesmo em pequenas quedas. Em alguns casos, a fratura da cabeça do fêmur pode ocorrer antes da queda, por falência da estrutura óssea durante o apoio unipodal — típica da fase de balanço da marcha.
Além disso, micro fraturas vertebrais podem ocorrer com impacto mínimo em vértebras já osteopênicas. Exercícios inadequados, como abdominais tipo “crunch”, podem acentuar o risco de colapso vertebral nessa população.
Quedas e o ciclo da cinesiofobia
O idoso que sofre uma queda frequentemente desenvolve cinesiofobia — o medo de se mover. Esse medo leva à imobilidade, que gerará sarcopenia já propícia da idade, por consequência, perda de equilíbrio e enfraquecimento e novas quedas.
Esse ciclo vicioso afeta a autoestima, a autonomia e a segurança postural, sendo essencial romper esse padrão com estratégias de reabilitação centradas na funcionalidade e confiança do movimento.
Avaliação biomecânica: o primeiro passo
A avaliação da marcha deve considerar:
Comprimento e ritmo dos passos
Mobilidade articular de tornozelos, joelhos e quadris
Estabilidade da pelve e tronco
Apoio plantar e uso de calçados
Integridade neurológica (propriocepção, reflexos, coordenação)
A partir daí, o plano terapêutico deve ser construído respeitando a individualidade biomecânica e emocional do paciente.
Pilates Clínico como ferramenta de intervenção
O Pilates aplicado à reabilitação geriátrica é uma excelente estratégia para melhorar:
Controle motor e estabilidade central (Power House)
Equilíbrio postural dinâmico
Força excêntrica de membros inferiores
Consciência corporal e fluidez do movimento
Respiração funcional e ritmo respiratório, muitas vezes alterado no idoso
Com ênfase em movimentos controlados, seguros e com feedback tátil e verbal, o método favorece a reorganização sensório-motora e contribui para a prevenção de quedas recorrentes.
Intervenções complementares
Outras abordagens complementares também podem ser associadas com bons resultados:
Treino de marcha com obstáculos e superfícies instáveis
Exercícios proprioceptivos em bases reduzidas
Integração sensorial (visão, audição, tato)
Estímulo cognitivo (dual task training)
Hipopressivos para reequilíbrio postural e da pressão intra-abdominal
Conclusão
A marcha é uma função que reflete a integridade do corpo como um todo — biomecânica, neurológica e emocionalmente. Cuidar dela, em pessoas idosas, é investir em autonomia, segurança e dignidade.
Cabe ao fisioterapeuta atuar de forma preventiva e personalizada, utilizando recursos atualizados e eficazes como o Pilates Clínico e a educação em saúde.
Referências Bibliográficas
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