Antes de começarmos a falar sobre diástase disfuncional, quero lembrar um pouco sobre as estruturas do abdômen. Primeiramente, no terço inferior do abdômen todas as aponeuroses dos músculos largos estão situadas a frente do reto do abdômen.
Essa disposição das aponeuroses não se dá por acaso. Na parte infra umbilical (terço inferior do abdômen) temos a influência da convergência de forças da contração do musculo diafragmático que é para baixo e para frente.
A contração do diafragma traciona os órgãos da pelve menor à frente, e as aponeuroses tentam proteger esses órgãos dessa variação constante da pressão realizada pela respiração.
Assim fica fácil entendermos esse reforço aponeurótico à frente dos retos do abdômen na região infra umbilical. Ele é o ponto de encontro de todas as cadeias musculares do tronco. A lordose lombar, pode ser um meio de proteção dos órgãos da pelve menor as constantes diferenças de pressão respiratória.
Por que surgem diástase disfuncional e funcional na altura da linha alba?
Já nos dois terços superiores ou região supra umbilical não temos esse reforço aponeurótico superior. Portanto, a linha alba é mais frouxa o que facilita o aparecimento de diástase.
Essa frouxidão é importante para o conforto das vísceras. Como vimos a região infra umbilical é bem reforçada a fim de proteger os órgãos da pelve menor das diferenças de pressões abdominais empurrando as vísceras para baixo.
Logo, as vísceras que são prioridade encontram nessa folga supra umbilical o conforto de acordo com suas necessidades as variações pressóricas.
Portanto, as diástase não são fraquezas dos músculos da parede abdominal, mas sim uma adaptação corporal importante entre a estática e as vísceras. (Traité d ostéopathie viscérale, Ed. Maloine)
Esse crédito de largura ou frouxidão supra umbilical tem a função de amortecer as importantes e constantes variações pressóricas intra-abdominais para:
Fenômenos hemodinâmicos;
Fenômenos digestórios;
Permitir o aumento de pressão gerado na gravidez.
Isso explica porque o Transverso do abdômen passa a frente na linha infra umbilical e atrás na linha supra umbilical. Ele deve proteger sua principal ação que é a fonação.
Diástase o que é sua relação com a linha alba
A linha alba junto dos retos abdominais são os grandes maestros permitidores da distribuição de forças pressóricas durante o processo gestacional. A gestante encontrará então para sua estática um importante ponto de apoio na região torácica.
Entendendo essa inteligência corporal fica fácil compreender o corpo como um todo. Não há como tratar uma diástase pensando somente nos músculos abdominais, faz-se necessário desfazer essa necessidade corporal gestacional de realizar todo seu apoio estático na região dorsal.
O tratamento mais eficiente das diástases é realizado pela torácica. Além da flexibilização dos músculos largos seguidas de contrações alternadas para que não haja o efeito de tração sobre a linha alba.
A solicitação mais forte do Powerhouse é ineficiente, visto que a contração dos músculos ativará a contração dos músculos largos do abdômen. O resultado será uma distensão ainda maior da linha alba.
Ou seja, a variação da solicitação dos músculos largos, seguidos da flexibilização desses mesmos músculos, permitirão seu relaxamento. Assim retiramos tração da linha alba. Por conseguinte, os retos abdominais também ficam menos tracionados.
O que é diástase disfuncional?
Os músculos abdominais têm papel significativo na atividade respiratória, principalmente durante a fase expiratória. Isso pôde ser observado por meio da eletroneuromiografia. No teste se obtém o aumento da atividade elétrica destes músculos durante a expiração e declínio durante a inspiração.
Diante dos resultados obtidos sobre a resposta sinérgica abdômino-pélvica, observa-se que tanto a atividade perineal quanto a abdominal são influenciáveis pelo padrão respiratório imposto.
Assim sendo, a manobra que demonstrou melhor estimular tal ação sinérgica foi a execução da expiração. Já aquela que mostrou praticamente nenhuma resposta sinérgica entre os grupos musculares estudados foi a inspiração.
Segundo o artigo The myth of core stability1 (O mito da estabilização do tronco), o autor relata que o transverso do abdômen tem várias funções na postura ereta.
A estabilidade é uma delas, mas está em sinergia com os outros músculos da parede abdominal. Ele atua no controle da pressão da cavidade abdominal para as funções de fonação, respiração, defecação, vômito etc.
Ele também forma a parede posterior do canal inguinal atuando como válvula e impedindo a herniação das vísceras por este canal.
Abdômen fraco influencia em o que é diástase?
Em alguns casos encontramos músculo abdominais fracos, com seu funcionamento inibido. Mas, isto não ocorre simplesmente pela falta de uso destes músculos. Na verdade, isso é uma estratégia inteligente de proteção do corpo frente a um amento da pressão intra-abdominal.
Um indivíduo que possui hábitos alimentares errôneos, por exemplo, pode gerar um excesso de gases. Os motivos podem ser o excesso de fermentação dos alimentos, ou ainda pelo fato da fermentação estar sendo feita no local errado.
Tal indivíduo gerará um abdômen globoso (distendido) que prejudicará o sistema musculoesquelético perante o movimento. Os músculos estarão distendidos, fora de sua curva normal de comprimento e tensão, se relaxando.
Lembrando aqui que as vísceras têm prioridade. Logo, o transverso do abdômen vai encontrar-se distendido pois, o corpo precisa abrir espaço nesta cavidade tracionando a linha alba, podendo afastar os músculos retos do abdômen.
Qualquer pressão exercida nesta região seria antifisiológica, aumentaria a dor, algumas vísceras não suportam pressão. Se os músculos não sacrificarem seu funcionamento a favor das vísceras vão contra o mecanismo de conforto do corpo.
Conclusão
Como vimos, ainda existem muitos questionamentos a serem feitos sobre as propostas de estabilização do tronco. Um fator extremamente importante que não é considerado por tais propostas é a avaliação da pressão abdominal.
Solicitar contrações mantidas à pacientes que já possuam pressão intra-cavitária elevada, pode ser muito perigoso. Esta elevação acentuada da pressão intra-abdominal, pode:
Gerar um efeito compressivo sobre os feixes vásculo-nervosos;
Prejudicar o funcionamento de todo sistema visceral.
O excesso de pressão também acontece sobre o assoalho pélvico, facilitando, a longo prazo, a instalação de mecanismos de fuga. Se a respiração solicitada durante o Pilates for errônea e seu aluno empurrar as vísceras para baixo enquanto contrai o abdômen favorece a instalação do esquema descrito.
Blandine traz da França todo um novo conceito em seus livros sobre Pilates. Ela recomenda solicitar a realização do exercício na fase inspiratória sem o fechamento das costelas.
Essas ações tentam não sobrecarregar as vísceras. Além disso, ele preconiza que os exercícios sejam realizados na fase inspiratória evitando assim o aumento da pressão intra-abdominal durante os enrolamentos no Pilates.
Em contrapartida, ao realizarmos os exercícios na inspiração o diafragma encontrar-se-á em posição baixa, diminuindo a área abdominal, e quanto a essa nova proposta ainda não temos estudos científicos comprobatórios.
Como vimos, vários autores e pesquisadores contemporâneos já se atentaram para as questões das variações pressóricas e vem buscando novas propostas para o conforto de um corpo viscerado, sem desrespeitar as três leis corporais: conforto, equilíbrio e economia.
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