Você, que trabalha com reabilitação, sente dificuldade em trabalhar com patologias do joelho?
Os membros inferiores sofrem com diversas patologias, muitas delas comuns nos nossos Studios de Pilates e outros centros de reabilitação.
Sei que muitos também sentem alguma dificuldade em prescrever exercícios adequados para essas patologias, mas não é esse meu propósito aqui.
Ao invés de passar diversos exercícios para patologias do joelho, quero desenvolver raciocínio crítico. Isso quer dizer saber realizar uma boa avaliação do aluno e compreender seu problema. Assim conseguimos nos livrar daquela péssima mania de depender de protocolos de aula prontos que raramente realmente correspondem às necessidades do aluno.
Nesse artigo você aprenderá:
● As cadeias do membro inferiores;
● Alterações causadas por tensão nessas cadeias;
● Principais patologias do joelho;
● Como entender o tratamento.
As cadeias do membro inferior
Sabemos que as cadeias musculares têm extrema importância no tratamento de qualquer lesão ou patologia. Elas estão relacionadas ao mecanismo da lesão e com diversas compensações que deveremos corrigir. Se você quer realmente compreender as patologias do joelho deve entender primeiro a atuação das cadeias musculares do membro inferior.
Cadeia de Flexão dos membros inferiores
● Iliopsoas;
● Psoas menor;
● Obturadores;
● Gêmeos;
● Semimembranoso;
● Poplíteo;
● Extensor longo dos dedos;
● Lumbricais;
● Quadrado plantar;
● Flexor curto do halux;
● Flexor curto do dedo mínimo.
Quando temos um pacientes com a cadeia de flexão dos membros inferiores encontraremos também:
● Posterioridade ilíaca;
● Flexão de quadril;
● Flexão de joelhos (flexo de joelho);
● Flexão do arco plantar (pé cavo);
● Flexão dorsal dos tornozelos;
● Flexão dos dedos (dedos em martelo);
● Famoso esporão de calcâneo.
Em alguns pacientes o pé cavo não se manifesta durante a marcha. Mesmo assim, as tensões que atingem a musculatura plantar favorecem a retração da aponeurose plantar. Essas forças podem levar ao aparecimento de um outro problema: o esporão do calcâneo.
Cadeia de Extensão dos membros inferiores
● Glúteo Maximo;
● Quadrado femoral;
● Reto femoral;
● Vasto intermediário;
● Sóleo;
● Flexor curto dos dedos;
● Interosseos;
● Extensor curto dos dedos;
● Extensor curto do halux.
Esta cadeia em tensão levará a:
● Anterioridade ilíaca;
● Extensão de quadril;
● Hiperextensão de joelho (genum recurvatum);
● Extensão do tornozelo;
● Extensão do arco plantar (com arco pouco evidente – pé plano);
Cadeia de abertura dos membros inferiores
● Sartório;
● Tensor da fáscia lata;
● Glúteo Máximo;
● Glúteo médio;
● Glúteo Mínimo;
● Piriforme;
● Cabeça longa do bíceps femoral;
● Cabeça curta do bíceps femoral;
● Tibial anterior;
● Extensor longo do hálux;
● Vasto lateral;
● Gastrocnêmio medial;
● Tibial posterior;
● Flexor longo dos dedos;
● Adutor do hálux;
● Oponente do dedo mínimo.
Esta cadeia em tensão levará a:
● Abertura do ilíaco;
● Rotação externa;
● Abdução do fêmur;
● Varo de joelho;
● Varo de calcâneo;
● Supinação do pé (pé virado externamente);
● Hálux valgo sendo este um grande marco evidenciando a cadeia de abertura.
Com o estilo de vida moderno não podemos ver um hálux valgo e afirmar com certeza estarmos diante de uma cadeia de abertura. Em mulheres isso é extremamente importante já que esse grupo costuma utilizar calçados desapropriados a arquitetura plantar.
O indivíduo tende a ter entorses em eversão. Ele também apresenta projeção do espaço que o membro inferior ocupa. Portanto, o membro inferior acaba expandido, criando um resultante alongamento da perna. Esse fenômeno gera uma falsa perna longa.
Cadeia de fechamento dos membros inferiores
● Pectíneo;
● Adutor magno;
● Adutor curto;
● Adutor longo;
● Grácil;
● Semitendinoso;
● Vasto medial;
● Gastrocnemio lateral;
● Fibular longo;
● Fibular curto;
● Fibular anterior;
● Abdutor do dedo mínimo;
● Abdutor do hálux.
Esta cadeia em tensão levará a:
● Fechamento do ilíaco;
● Rotação interna do fêmur e adução;
● Joelho valgo;
● Valgo de calcâneo;
● Pronação do pé (pé virado internamente);
● Hálux valgo.
A retração do membro inferior no fechamento leva a uma resultante de encurtamento da perna, diminuindo sua projeção no espaço.
Principais patologias do joelho
Agora que conhecemos as cadeias musculares dos membros inferiores podemos estudar algumas das principais patologias do joelho.
Artrose de Joelho
Os joelhos são submetidos a sobrecarga diariamente. Devido a isso, é normal que, com o passo dos anos, o processo fisiológico de envelhecimento desgaste a cartilagem. Muitas vezes esse desgaste é assintomático.
É nessa fase que nós, profissionais do movimento atuamos mais efetivamente. Devemos reconhecer as tensões de desequilíbrio mecânico e corrigi-las. Essa é uma maneira de evitar que o desgaste evolua.
Também devemos ganhar força nos músculos que recobrem o joelho para mantermos o espaço articular. Com esse trabalho evitamos nos quadros mais severos dor e edema. Nesses já estarão instalados desgastes da cartilagem hialina e, por vezes, desgastes ósseos irreversíveis.
Lesões do Ligamento Cruzado Anterior (LCA)
O LCA liga a tíbia ao fêmur tornando-o um importante estabilizador do joelho. Ele não permite que ocorra o movimento de translação anterior da tíbia sobre o fêmur. Isso é algo que ocorre mais frequentemente nos movimentos onde há de mudança brusca de direção ou traumas.
Uma vez o LCA rompido, o indivíduo sente instabilidade e dificuldade para realizar movimentos que envolvam a rotação de joelho.
O mecanismo fisiopatológico de ruptura do LCA ocorre com mais frequência, no momento onde o joelho encontra-se em posição de menor coaptação. Ou seja, maior instabilidade, durante as semiflexões da articulação.
Lesão Meniscal
O menisco é a estrutura localizada entre o fêmur e a tíbia. Sua principal função é absorver o impacto recebido na articulação, agindo como verdadeiro ”amortecedor” para os joelhos. O mecanismo de ruptura meniscal ocorre com maior frequência quando o joelho estiver em semiflexão. Essa é a posição de maior instabilidade articular.
Condromalácia Patelar
A condromalacia ocorre quando tivermos um excesso de tensão nos músculos retos femorais. Assim, a patela é obrigada a trabalhar em posição alta, trazendo-a de encontro aos côndilos femorais. Para tratarmos a condromalacia, basta relaxarmos os retos femorais.
Desenvolvendo o raciocínio clínico
Muita gente vai me perguntar ao fim desse artigo: mas como eu trato as patologias do joelho?
Quero pedir aqui nesse artigo que vocês entendam a importância de desenvolvermos um raciocínio clínico. Nesse raciocínio devemos entender a formação de cada patologia, visto que todas são consequências de disfunções biomecânicas.
A tensão das cadeias musculares gera uma disposição que não podemos negligenciar. Para cada uma dessas alterações diante de uma mesma patologia temos mecanismos fisiopatológicos distintos de formação.
Em um aluno com um falso varo, sabemos que estamos diante de uma cadeia de extensão e fechamento do membro inferior. Logo, o joelho apresentará uma hiperextensão e uma rotação interna da patela. Isso aumenta o contato ósseo anteriormente e internamente nos côndilos femorais. Portanto, essa é uma das formações fisiopatológicas para uma artrose de joelho nas regiões de maior contato ósseo.
Para essa mesma alteração do joelho também encontraremos uma sobrecarga ligamentar no ligamento cruzado posterior (LCP) e no ligamento colateral externo (LCE). Ela pode fragiliza-los, dando início a uma possível laceração nesses ligamentos.
Também encontraremos uma maior tensão na cápsula articular em sua região posterior e lateral. Também surge uma zona de hiperpressão no menisco em sua porção interna e em sua porção anterior. Esse aumento de pressão, caso não seja corrigido, pode gerar perda na capacidade funcional desse menisco favorecendo a lesões meniscais.
E o tratamento para todas essas alterações biomecânicas citadas será relaxar os músculos das cadeias musculares de extensão e fechamento em sua totalidade.
Comments