A síndrome compartimental pode levar até a amputação quando não tratada. Por isso, precisamos ficar atentos aos seus sinais!
Assim como tudo ligado ao sistema fascial, a Síndrome Compartimental Crônica ainda é pouco compreendida. Ela é um problema que afeta principalmente atletas, mas que pode surgir em praticamente qualquer um de nossos alunos. Como profissionais do movimento devemos aprender como trabalhar com a síndrome e melhorar os padrões de movimento dos alunos. Aprenda nesse artigo como ela surge e qual é o principal tratamento da Síndrome Compartimental.
Síndrome Compartimental Crônica (de esforço)
Existem casos nos quais a Síndrome Compartimental é causada por exercícios. Geralmente, atletas que praticam atividades com movimentos repetitivos estão em um risco maior.
Apesar de poder atingir pessoas de qualquer faixa etária, a Síndrome Compartimental Crônica costuma atingir pessoas com menos de 40 anos. Dessa forma, os esportes com maior risco de desenvolvê-la são:
Natação
Tênis
Corrida
Outros com Movimentos Repetitivos
Qualquer esporte que seja muito intenso ou frequente aumenta o risco de desenvolver a síndrome. Até o Crossfit pode levar ao aparecimento do problema.
Possíveis causas desse tipo de síndrome compartimental
Ainda não é possível determinar exatamente o motivo dessas atividades causarem a Síndrome do Compartimento. É possível que as causas envolvam:
Mecânica individual do corpo que prejudica a prática esportiva;
Sistema fascial mais espesso que o normal;
Hipertrofia muscular;
Hipertensão arterial.
Sabemos que a atividade física gera quebra de fibras musculares para remodelagem muscular. Ou seja, esse processo é semelhante a um processo inflamatório, liberando um excesso de líquido dentro dos compartimentos musculares. Alguns músculos são acometidos com mais frequência que outros, como bíceps, quadríceps e tríceps sural. Portanto, o líquido característico da Síndrome Compartimental pode acontecer devido a uma hemorragia local e/ou excesso de edema. Com a presença do líquido nos músculos a área do compartimento anatômico fica diminuída. Considerando a pouca extensibilidade da fáscia que envolve o sistema muscular, é impossível que ela se adapte para comportar a nova área. Assim, a pressão local aumenta e surge a Síndrome do Compartimento. Imaginemos isso na prática em um aluno com uma tensão na cadeia muscular de extensão dos membros inferiores. Ele estará com um quadríceps tenso e mais toxemiado. Assim, ao exercitar demais o quadríceps, ele pode quebrar muitas fibras musculares no local. Isso aconteceria numa aula só de agachamento, por exemplo. Nesse momento o aluno estaria correndo o risco de desenvolver uma Síndrome do Compartimento.
Como a Biomecânica explica a Síndrome Compartimental Crônica
Ao observarmos essa patologia através da biomecânica percebemos que ela pode ser consequência de desequilíbrios entre:
Massa
Volume
Pressão
Ou seja, um aumento de massa dentro de um volume fixo, elevando assim, a pressão interna.
Sintomas da Síndrome Compartimental
A Síndrome Compartimental Crônica é mais comum em pessoas que praticam esportes de impacto repetido.
Geralmente ela começa a se manifestar na forma de dor após a prática do exercício. O desconforto cessa assim que o indivíduo está em repouso e as pressões são normalizadas.
Quando o indivíduo voltar a praticar a atividade física terá a pressão aumentada, o que diminui o fluxo sanguíneo para os nervos e músculos. Como resultado, ele sentirá sintomas como:
Dor
Queimação
Ardência
Parestesia do Compartimento Afetado
Sensação de Aperto
Parestesia
Fraqueza
Edema
Herniação Muscular
Como Funciona a Síndrome Compartimental Crônica Ao sofrer um aumento da pressão em um dos compartimentos musculares, teremos perda de função vascular e neural. Assim, a região gera isquemia e cria um ciclo de retroalimentação que aumenta o acúmulo de líquidos e restringe o fluxo sanguíneo. A função mecânica da fáscia pode piorar ainda mais essa situação. Afinal, ela consegue aumentar sua espessura e rigidez para responder ao aumento de pressão causado pela síndrome do compartimento. O aumento da pressão compartimental gera uma diminuição dos vasos sanguíneos. O colapso venoso aumenta a congestão capilar e ainda reduz a perfusão tecidual. Ou seja, desenvolve mais toxemia local. Para entender por que os sintomas costumam aparecer durante ou logo após a atividade física precisamos analisar as pressões. Em repouso, elas variam de 0 a 20mmHg de acordo com Dayton e Bouche. Mas ao realizar esforço físico elas podem ultrapassar 70mmHg. Em pessoas saudáveis essas pressões se normalizam assim que a pessoa para de fazer o esforço. No entanto, quem possui a Síndrome Compartimental não consegue essa normalização, a pressão pode passar o 100 mmHg. Dessa forma, demoram a retornar a níveis de pressão normal fazendo com que seus tecidos sofram com todos os efeitos que já mencionei aqui.
Tratamento da Síndrome Compartimental Crônica O principal tratamento da Síndrome Compartimental é a cirurgia, que além de ser mais usada também se mostra mais eficaz. O processo cirúrgico consiste em abrir a fáscia que encerra o compartimento muscular. Tal processo é chamado de fasciotomia e alivia, dessa forma, a pressão que atrapalha os músculos. Alguns casos são mais graves, já que neles a inervação do membro afetado também é comprimida o que gera perda de movimento. Em casos assim nem sempre a fasciotomia é indicada. Quando o tratamento para o paciente demora a acontecer ela se torna uma emergência médica. O aumento de pressão no compartimento muscular lesiona os músculos e nervos afetados de maneira irreversível. Alguns pacientes precisam recorrer até a amputação por não buscar tratamento cedo. Quando procurar ajuda médica Inicialmente o paciente sente um desconforto logo que começa a atividade física e que piora conforme ele treina. Nesse momento a maioria dos pacientes ignora o desconforto e continua treinando ou diminui a intensidade do treino até que a dor diminua. Mas o desconforto continua piorando até que se torna mais persistente. É possível que dure até 2 ou 3 dias. Pesquisas indicam que os gestos esportivos são especialmente importantes para desenvolver a síndrome. Se a pessoa corre ou se exercita de maneira errada acontece sobrecarga em grupos musculares. Ou seja, aumenta consideravelmente a chance de desenvolver a síndrome do compartimento. Também é preciso tomar cuidado com o overtraining. Um aumento súbito do volume e intensidade do treino pode facilmente lesionar o atleta ou levar ao desenvolvimento da patologia. Além do tratamento da Síndrome Compartimental com cirurgia, é possível optar pelo tratamento conservador. Nessa opção devemos realizar o alongamento e fortalecimento específico de músculos inibidos. O aluno deve dar uma pausa nos exercícios de impacto. O principal ponto do tratamento da Síndrome Compartimental para os profissionais do movimento é corrigir os gestos esportivos. Precisaremos avaliar o aluno e determinar quais compensações estão piorando o quadro. Lembrando que o corpo realizará ainda mais compensações para evitar a dor.
Conclusão Nunca devemos deixar de nos movimentar e se exercitar. Esse é o melhor remédio para prevenir um número imenso de dores e patologias, mas depende bastante da maneira que o fazemos. Quando alguém realiza atividades físicas sem as devidas orientações pode desenvolver desequilíbrios e compensações. Esses erros de movimento levarão a problemas no corpo. Lembre-se que a atividade física deve agregar à qualidade de vida e não aumentar seus riscos.
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